Moldar a educação dos filhos lançando mão da velha frase "Não faça isso que Deus castiga" não é um expediente recomendável para quem leva a sério os princípios da psicologia. O medo de Deus é uma das principais causas de stress em crianças de seis a 12 anos e pode transformá-las em adultos inseguros. A conclusão é da psicóloga Marilda Novaes Lipp, 47 anos, professora da Pontifícia Universidade Católica de Campinas (Puccamp) e diretora do Centro de Controle de Stress para Adultos e Crianças. A pesquisadora reuniu 187 entrevistas com crianças de escolas públicas e particulares de São Paulo, Campinas, Santa Bárbara do Oeste e Atibaia, no Estado de São Paulo, e Campo Grande, em Mato Grosso do Sul. Em Campo Grande, 70% dos estudantes de escola pública demonstravam ter medo de Deus, enquanto esse índice ficou em 50% nos colégios privados. Já em São Paulo e Campinas, o temor divino atingiu cerca de 30%. "Isso indica que em cidades menores as pessoas são mais religiosas e recorrem ao nome de Deus com frequência", explica Marilda Lipp. A idéia de que Deus castiga faz com que as crianças se sintam vigiadas o tempo todo e com a certeza de que serão punidas se não se comportarem.
... Renata, 8 anos, que temia punições a ponto de ter pesadelos
Deus causa stress
Psicóloga constata que o medo do castigo divino perturba crianças até 12 anos e gera adultos inseguros
Foto: RICARDO GIRALDEZ
Marilda Lipp pesquisou crianças como ...
MADI RODRIGUES
Moldar a educação dos filhos lançando mão da velha frase "Não faça isso que Deus castiga" não é um expediente recomendável para quem leva a sério os princípios da psicologia. O medo de Deus é uma das principais causas de stress em crianças de seis a 12 anos e pode transformá-las em adultos inseguros. A conclusão é da psicóloga Marilda Novaes Lipp, 47 anos, professora da Pontifícia Universidade Católica de Campinas (Puccamp) e diretora do Centro de Controle de Stress para Adultos e Crianças. A pesquisadora reuniu 187 entrevistas com crianças de escolas públicas e particulares de São Paulo, Campinas, Santa Bárbara do Oeste e Atibaia, no Estado de São Paulo, e Campo Grande, em Mato Grosso do Sul. Em Campo Grande, 70% dos estudantes de escola pública demonstravam ter medo de Deus, enquanto esse índice ficou em 50% nos colégios privados. Já em São Paulo e Campinas, o temor divino atingiu cerca de 30%. "Isso indica que em cidades menores as pessoas são mais religiosas e recorrem ao nome de Deus com frequência", explica Marilda Lipp. A idéia de que Deus castiga faz com que as crianças se sintam vigiadas o tempo todo e com a certeza de que serão punidas se não se comportarem.
As crianças estressadas apresentam vários sintomas. "Elas acordam no meio da noite com terror noturno, têm sentimento de culpa exacerbado, irritação, taquicardia, gaguejam, ficam com as mãos suadas, sentem dor de estômago, têm dificuldade de concentração e, quando ficam nervosas durante o dia, fazem xixi na cama à noite," descreve Marilda, Ph.D. em Psicologia pela George Washington University. As idéias errôneas sobre o Todo-Poderoso provocam danos à personalidade do futuro adulto. "A criança que tem medo de Deus se torna um adulto perfeccionista, acomodado e que não ousa em coisa nenhuma", explica. As conclusões da professora estão no livro Pesquisas sobre stress no Brasil, lançado em fevereiro, pela Editora Papirus. Nele, é enfatizado que esse trauma não representa um problema religioso. "Em sua maioria, a imagem punitiva de Deus parte dos pais. É uma questão puramente de educação, porque Deus não vai causar mal para ninguém", garante.
As consequências provocadas pelo medo de Deus são reversíveis quando tratadas na infância. "Na fase adulta, os efeitos são mais difíceis de você reverter. Precisa de uma boa terapia", ressalta Marilda. A pesquisa mostra também que os pais das crianças entrevistadas não tinham a menor idéia de que o medo de Deus causava estrago à saúde de seus filhos. Para a pesquisadora, é perfeitamente possível controlar a impulsividade das crianças sem precisar recorrer aos préstimos divinos. "Os pais precisam ter coragem de desagradar as crianças. Saber impor respeito e punição, que não deve ser física", ensina. Há um ano e meio, a artista plástica Neide Pinheiro Mafra Machado, 38 anos, moradora de Campinas, notou que a filha, Renata, de oito anos, acordava de noite sobressaltada. "Durante o dia, ela se mostrava tensa e à noite acordava com as mãos suadas, com medo, dizendo que tinha tido pesadelo", lembra Neide. Um certo dia, a menina perguntou: "Mãe, Deus vê tudo que a gente faz? Ele fica me vigiando, mãe?" Renata estava com medo de Deus e Neide tratou de tranquilizá-la. "Estudei em colégio de freira onde a imagem de Deus era passada de forma terrorista. Por causa disso, tomei todos os cuidados para que a minha filha não tivesse a mesma visão", contou a artista plástica, que assegura que esse medo não nasceu dentro de sua casa. Embora tenha tentado, a mãe não conseguiu aplacar o medo de Renata, tanto que há um ano e meio a menina faz tratamento no Centro de Controle de Stress para Adultos e Crianças. Lá, descobriu-se que, aos três anos, Renata ficou furiosa com Deus depois da morte do avô paterno e se sentiu punida quando a irmã Bruna, de um ano e quatro meses, demorou para chegar. Hoje a menina tem se mostrado mais confiante. "Antes eu tinha medo de Deus. Achava que ele ficava vendo tudo que eu fazia e que ia me castigar. Mas hoje eu sei que Deus não faz isso. Ele é bonzinho", afirma.
fonte:
http://terra.com.br/istoe/comport/144014.htm
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