Qualquer estudo básico sobre argumentação denucia a existência das Falácias, elas se dividem em Formais e Não-Formais. As Formais implicam em erros na Forma, estrutura do raciocínio. As Não-Formais, em geral são pseudo argumentos que disfarçam sua inconsistência com algum tipo de artifício, como um apelo abusivo a autoridades, um exagero ou uma anedota.
Existem inúmeras falácias, e elas costumam ser amplamente utilizadas, e em especial em grau sofisticado por advogados e políticos. Mas algumas delas não apenas são comuns, como se integraram de tal forma em nossa cultura que são quase impossíveis de serem derrubadas.
Não tenho dúvidas de que a Falácia mais bem sucedida de todos os tempos é do gênero da "Falácia do Espantalho". Trata-se de construir uma versão distorcida da idéia que se quer atacar, torná-la mais frágil, e então refutá-la e ridicularizá-la, dando a impressão que se "destruiu" as idéias do adversário, quando na verdade, se atacou apenas um versão deturpada, "espantalho", dela.
Como exemplo poderíamos citar o ativista de direitos humanos que combate os maus tratos aos prisioneiros, que quando é criticado por um adversário é apresentado como alguém que defende os criminosos contra a sociedade, uma versão muito mais fácil de se atacar.
Mas a falácia mais bem sucedida de todos os tempos, voltando ao tema, é nada mais nada menos do que:
Ninguém parece saber quem é o responsável por tal idéia, mas muitos dão por quase certo que foi um Criacionista, ao menos no que se refere à sua popularização, pois tal afirmação sequer faz sentido dentro da teoria evolutiva. Não obstante, essa noção é tão forte e difundida no senso comum que a maioria dos evolucionistas já desistiu de combatê-la, apenas lidando com ela de modo a contorná-la ou reinterpretá-la.
Para compreendermos, porém, a dimensão do problema, faz-se necessário observar o uso das palavras em Inglês.
Na Lígua Inglesa existem dois termos: Monkey e Ape.
Monkey se refere a uma categoria de primatas inferiores, que apresentam cauda, são em geral menores, menos inteligentes e possuem uma vasta variedade de espécies espalhadas por todo o mundo. Alguns exemplos são os Micos, Saguis, Macacos-Aranha, Macacos-Prego, Babuínos e etc.
Ape se refere à restrita categoria dos Primatas Superiores, a saber: Gorilas, Chimpanzés, Orangotangos e Bonobos (Chimpazés-Pigmeus). São os mais inteligentes animais da natureza, bem maiores em tamanho que os primatas inferiores, nenhum deles tem cauda e só existem no continente Africano.
Entretanto, na Língua Portuguesa, ambas essas categorias são traduzidas pelo mesmo nome Macaco, o que gera muitas confusões.
Dizer então que a Espécie Humana evoluiu de uma espécie de Ape, é algo até razoável. Impreciso, para dizer o mínimo, mas ao menos é defensável, dependendo do ponto de vista.
Mas dizer que a Espécie Humana evoluiu de uma espécie de Monkey é, sem sombra de dúvida, TOTALMENTE ERRADO!
Observando-se a linha de ancestralidade da espécie humana, retrocederemos no tempo primeiro para os Hominídeos, que são:
Seguramente essas espécies não eram Macacos, nem na acepção Monkey, nem na Ape. Elas eram, como o primeiro nome de cada uma sugere, Hominídeos. Dentre as características que as diferenciam dos Apes estão o tamanho do cérebro, bem mais desenvolvido, a capacidade de usar ferramentas de modo muito mais sofisticado que os Apes, o fato de serem bípedes e andarem eretos, diferente dos Apes atuais, e outras.
Antes do Homo Abilis, temos então:
4,4 Milhões de anos atrás-----------------------------------------2 Milhões de anos atrás
(aproximadamente)
O Australopitecus Afaraensis certamente não era um Monkey, e tão pouco poderia também ser chamado de um Ape, pois apresentava também o caminhar ereto, além de uma série de outras diferenças cranianas. O melhor exemplar desta espécie é um registro fóssil praticamente inteiro de uma fêmea que os cientistas batizaram de Lucy. E é talvez o que mais se aproxime da idéia de um "Elo Perdido", que era um termo usado por alguns evolucionistas antigos.
A ídeia de um elo perdido, no entanto, também se revelou errônea, e não é mais usada pelos evolucionistas ao menos desde a década de 70, quando as descobertas dos Leakeys e de Donald Johanson (descobridor de Lucy) aumentarem imensamente nossa perspectiva do passado. No entanto esse conceito também se embrenhou no senso-comum, de modo que até hoje alguns Criacionistas "denunciam" que "O Elo perdido nunca foi encontrado".
De certo que pode-se dizer que exista um "elo" transicional entre uma espécie e outra, mas no caso dos humanos, há dezenas de "elos" nos separando das demais espécies atuais do planeta, e o mais interessante, esses "elos", mesmo se totalmente reconstituídos, jamais nos levariam aos "Macacos", no caso demais Primatas Superiores.
Para entender o porquê disso, basta recuar mais um pouco na linhagem hominídea, e vejamos uma de suas mais prováveis reconstituições:
Diz-se, mais provável, porque essa fase da evolução dos pré hominídeos ainda é pouco conhecida, mas uma coisa já é bastante clara, que foi dos Propliopitechus que além de se desenvolver a linhagem que viria a resultar nos humanos, se desenvolveu também a linhagem que viria a resultar nos Primatas Superiores.
Isso é o mais importante:
São na verdade o resultado de uma linhagem evolutiva paralela, que é "aparentada" com os humanos. Nesse sentido, é impossível afirmar que os Humanos evoluíram dos "Macacos" que temos hoje. Talvez, se considerarmos que o Propliopitechus seja um Ape, a afirmação é defensável, mas é muito difícil aceitar que tal espécie possa ser colocada na mesma categoria de um outro grupo de espécies distante mais de 20 milhões de anos. Seria como dizer que um Velociraptor é um tipo de Lagarto como os que vivem hoje, Iguanas, Calangos, Lagartixas e etc.
Com isso, cai por Terra também uma das dúvidas leigas mais comuns sobre evolução humana, e que os Criacionistas exploram largamente, que é a pergunta: "Se os homens evoluíram dos Macacos, porque ainda há Macacos?"
Essa questão é Triplamente Errônea.
Primeiro, porque como já vimos, ela parte de uma premissa errada, pois os humanos não evoluíram dos "Macacos", nem na acepção de Monkey, nem na de Ape;
Segundo, porque mesmo que considerássemos os ancestrais dos humanos como macacos, estes não existem mais;
E terceiro, porque mesmo que existissem, isso em nada seria problema para a linhagem Evolutiva. O fato de uma espécie evoluir de outra, não significa que a espécie anterior tenha que deixar de existir. Caso contrário, não deveriam mais existir anfíbios, répteis nem invertebrados em geral.
A única coisa que provoca o desaparecimento de uma espécie é a competição com outras espécies, ou catástrofes naturais de imensas proporções. As espécies pré-humanas em geral foram desaparecendo provavelmente porque foram sendo superadas por espécies descendentes cada vez mais aperfeiçoadas, uma vez que eram próximas, tinham necessidades semelhantes e competiam entre si.
Mas não havendo tal competição, não há motivos para o desaparecimento da espécie. Dessa forma, os atuais macacos, em qualquer que seja a acepção, nunca foram nossos competidores, ao menos em larga escala, da mesma forma como nunca foram nossos ancestrais.
Mesmo sendo totalmente equivocadas, questões como essa são feitas exaustivamente não só por criacionistas, podendo ser encontradas, inclusive na própria Web, em quantidade muitíssimo maior do que textos que esclareçam tais equívocos. Algumas chegam ao ponto de adicionar: "Então porque os macacos pararam de evoluir?"! Ou ainda pior, "Porque não vemos um macaco se transformar num homem?"
Esse é o resultado de uma bem sucedida Falácia do Espantalho, o conceito distorcido se propagou tanto que até mesmo publicações especializadas por vezes preferem simplificar e se referir a nossos ancestrais como "Homens-Macacos", sempre na acepção Ape, é claro, muitas vezes usando, em português, os termos "Grandes Macacos", se referindo aos Primatas Superiores. Isso porém, dá margem a uma série de equívocos, principalmente em nosso idioma, permitindo toda uma gama de más interpretações. É possível ver textos inteiros, livros a até projetos de lei tendo como base esse equívoco.
Da mesma forma, não apenas a Evolução Humana, mas toda a Evolução da Vida, costuma ser distorcida pelos Criacionistas, que pregam para seus fiéis uma versão Espantalho do Evolucionismo, com afirmações bizarras, e sem dúvida inaceitável, e então o atacam como se estivessem derrubando o Evolucionismo real! E é claro que a maioria esmagadora de seu público alvo, os crentes ou os leigos, nunca irá se preocupar em verificar se tal imagem realmente procede.
É por isso que 90% do trabalho do defensor do Evolucionismo é desfazer as idéias equivocadas que os criacionistas, e o público em geral, tem da Evolução.
Diz a lenda, que certa vez perguntaram para um Evolucionista se ele era descendente de Macacos por parte de mãe ou por parte de Pai*. Deve-se admitir, foi uma gozação bem bolada. Mas mais engraçado ainda seria se o Evolucionista tivesse respondido: "Nenhum dos dois, sou descendente de hominídeos. Mas você, fazendo perguntas como esta, me deixa tentado a dizer que é! Só não o faço porque seria desrespeito com os nossos primos."
(*Obs: Na verdade tal pergunta teria sido feita pelo Bispo Samuel Wilberforce à Thomas Henry Huxley, o defensor de Darwin, durante um debate em Oxford em 1860. E Huxley teria respondido: "...não me envergonho de tal origem. Mas me envergonharia de descender de um homem que corrompeu os dons da cultura e da eloquência em prol do preconceito e da falsidade." Infelizmente o debate não foi devidamente documentado, e tudo o que sabemos sobre ele vem de reconstituições de reportagens da época e de anotações dos envolvidos e presentes, pouco mais de 700 pessoas. Marcus Valerio XR - 04 de Dezembro de 2004)
fote: http://www.evo.bio.br/LAYOUT/Macaco.html
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